domingo, 6 de maio de 2012



Não te deites comigo.
Tu não acreditas em meu amor.
- não vês que é dia de lua cheia?
- não vês que teu amor, agora, é dela?
Não há porque me deitar contigo.
Hoje não é noite de deitar, querida.
Hoje é noite de sair pra ver Maria
sendo banhada pelo brilho celeste.

Vai lá, veja o quanto é bela aquela
mulher que anda nua por toda a rua
sem seu vestido rodado de flor e com
seios rígidos que deram leite aos
meninos que ainda dormem.

Vai lá, é coisa bonita de se ver.
É a liberdade que nunca quis dar,
mas que tu sempre precisou - quem
sou eu para cortar o voou de teus pássaros internos?
Quem sou eu para apagar a luz dos teus olhos quando
te encontras com essa enorme estrela que brilha como você?

Vai lá, enquanto eu durmo.
Não precisa te deitar comigo, depois.
Não precisa mentir que me ama acima do céu.
Não precisa me prometer lugar no coração de Deus.
Vai dançar mulher. Vai cantar teus versos.
Vai mostrar tua cara e teu corpo para a rua.

- Não me acorde quando voltar, amada.
Chegue e feche a porta. Olhe nossos filhos, como
de costume. Depois deite nessa cama que nos
esforçamos inutilmente para chamar de "nossa" e
durma com sua nudez de anjo.

Eu terei tomado um vinho, fumado uns 2
cigarros e me banhado rapidamente.
Farei com que não repare que estou ao teu lado.
Fingirei que sou o que tu mais ama.
Acreditarei no teu corpo nu e nas fases da lua.


Tarcila Santana