sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Tudo de nada


Tinha um chapéu amassado e uma roupa rasgada.
Tinha uma maça colhida e folhas no chão.
Tinha uma fruta verde e uma coisa gelada.
Tinha você e eu, e só não tinha amor.




Tarcila Santana

Pedreiro

E então eu quis uma reforma.
E então eu chamei o pedreiro.
Ele não me dava "psiu",
não me olhava as pernas,
não trabalhava em mim.
Recebeu e foi embora;
levou carroça, levou martelo,
levou estrutura, telhado,
sua boia e a camisa suja.
- Era  pedreiro de pedra...
- Era uma pedra aquele pedreiro,
e como eu amava aquela dureza.







Tarcila Santana

Me esconda

Me esconda dos claros faróis
que fazem a noite acender,
revelando os corpos na esquina,
na praça, na rua e no butiquin.

Me esconda amor...

Me esconda dos claros faróis
que refletem em nossos olhos
encostados no muro, os baixos sussurros
do teu jeito animal.

Me esconda amor,
na tua saia florida de cor luar.

Me esconda amor,
em teus cabelos que o vento me toma,
que o vento leva, que o vendo devolta me traz.

Me esconda, amor. Em teu amor, me esconda.

Me esconda amor,
naqueles lençois amassados,
que de frente a janela nos cobre,
tapando o sol que, diariamente,
ousa se pôr.


Tarcila Santana